As águas em fúria
Desde o princípio da noite que a chuva caía com uma intensidade desusada. Primeiro, empapou as terras e lavou as ruas; logo, formou riachos lamacentos já demasiado caudalosos para serem completamente escoados pelas sarjetas e outros sumidouros urbanos; finalmente, enfureceu as águas da Ribeira das Jardas que, derrubando pontões e muros de suporte, transbordaram com violência do seu leito, semeando pânico e a destruição nas zonas baixas da freguesia.
Rapidamente, a enxurrada invadiu habitações, esventrou lojas e arrastou viaturas como se fossem barquinhos de papel. A sirene dos Bombeiros e os gritos dos desalojados estremeceram as paredes da noite. Eram duas horas da manhã. O drama acontecia em plena madrugada.
Como sempre, os nossos «Soldados da Paz» acorreram lestos às múltiplas solicitações da população e superaram, com dedicação e sacrifício, a insuficiência dos meios disponíveis para enfrentarem situações desta natureza. Graças à serenidade e eficácia da sua acção, bem coadjuvada pela pronta actuação de populares em socorro das famílias em risco, foi possível evitar a perda irreparável de vidas humanas. Na escuridão da noite, indiferente à violência da intempérie, um raio de altruísmo e de solidariedade levou a esperança a muitas famílias ameaçadas pela catástrofe.
"Aqua Alba" - Boletim Informativo da Junta de Freguesia de Agualva-Cacém
Novembro, 1983