Intervenção do representante da Comissão Executiva no V Encontro



Prezados membros da Comissão de Honra;

Estimados amigos, familiares de saudosos companheiros;  

Caros colegas da Comissão Executiva; 

Caras amigas, caros amigos, Bombeiros (porque sempre o seremos) de Agualva-Cacém:


As minhas primeiras palavras, em nome da Comissão Executiva do V Encontro de Antigos Operacionais, Dirigentes e Apoiantes “BVAC”, são naturalmente de saudação a todos os presentes e, também, de enorme regozijo pela significativa adesão à nossa iniciativa, após sete anos sem a realização de qualquer jornada de confraternização, não porque nos tenhamos esquecido de cada um de vós, mas devido a vicissitudes conjunturais que, a dado momento, nos furtaram do ânimo necessário tendente à organização deste tipo de evento.

Como diria um antigo e destacado responsável pelos bombeiros em Portugal, “tudo vale a pena quando se tem alma de bombeiro”. Foi exactamente sob a inspiração deste pensamento que a comissão de sempre, constituída, para além de mim, por Francisco Rosado, João Simões e Ângelo Sousa, decidiu retomar a realização dos nossos encontros, quer procurando corresponder ao reiterado interesse manifestado por muitos de vós, quer balizados pelos objectivos que, há 10 anos, foram estabelecidos quando levámos a efeito o nossa primeira reunião: fomentar o convívio e manter os laços de amizade estabelecidos entre antigos operacionais, dirigentes e apoiantes dos "BVAC"; e preservar a memória da genuinidade do associativismo e do voluntariado em bombeiros.

Nos últimos anos, perdemos companheiros inesquecíveis que habitualmente participavam nos nossos encontros e que representaram sempre, para a Comissão Executiva, por via das suas palavras e dos seus actos, preciosos incentivos. Recordamos, com saudade: António Augusto Valentim Barbosa; António Moita Tomás; Carlos Graça Martins; Custódio Ferrer de Oliveira Brites; Eugénio Augusto Valentim Vicente; Fernando Manuel Rosado Silva; Henrique Amaro; José Duarte Paula; Leonel Lopes; Manuel da Graça Costa; Nuno Rios dos Santos; Renato Gomes Carvalho; Rui das Neves Machado.

Antes de me deter noutros aspectos de igual modo importantes, impõe-se que, aqui e agora, destaque e agradeça a disponibilidade e o apoio moral dos membros da Comissão de Honra, integrada por João Pedroso dos Reis, David da Conceição Silva Martins, Henrique Leitão Costa, José Manuel Lourenço Baptista, João de Magalhães e Sousa, Jorge Manuel Cabrita Trigo e Domingos Linhares Quintas. Aliás, o ex-dirigente Domingos Linhares Quintas, que se encontra ausente por estar a participar no Congresso da Associação Nacional de Municípios Portugueses, na qualidade de Presidente da Assembleia Municipal de Sintra, louva a nossa acção e solicitou-me que vos transmitisse o seu abraço de incondicional consideração e amizade.

Em razão das duas efemérides que entendemos assinalar neste encontro, entre as quais a passagem dos 25 anos sobre a inauguração do monumento ao bombeiro voluntário, destacamos e agradecemos as presenças de José Guilherme Duarte Paula, filho de José Duarte Paula, e de João Vasco da Cruz Mateus, filho de João da Cruz Mateus, dois saudosos dirigentes cuja dedicação e competência reveladas concorreram decisivamente, entre outras personalidades locais de reconhecido mérito, para a edificação, nos anos 60 do século passado, do actual quartel-sede. Mais tarde, na década de 80, integraram a Comissão Executiva para o Monumento ao Bombeiro Voluntário em Agualva-Cacém, configurada numa tarefa árdua, difícil e ao mesmo tempo prazerosa, facto do qual nos falará, dentro de instantes, o nosso companheiro Jorge Trigo.

Conheci bem os dirigentes José Duarte Paula (com quem iniciei, há 20 anos, a actividade de dirigente na nossa Associação) e João da Cruz Mateus (a quem sucedi, na Mesa da Assembleia Geral, no exercício das funções de 2.º Secretário). Foram dois cidadãos exemplares, com vasta intervenção na antiga freguesia de Agualva-Cacém, dignos de figurarem na galeria dos mais notáveis, razão pela qual, muito justamente, ainda em vida, receberam a homenagem pública das entidades investidas na administração local. Conforme é hábito afirmar-se no seio das estruturas dos bombeiros, "nunca lhes seremos suficientemente gratos". Estas são também as palavras adequadas a outras duas figuras que marcaram a realidade passada, com a nobreza do seu carácter e das suas acções, cujos familiares quiseram distinguir-nos com as suas honrosas presenças, que agradecemos: Artur Fernando Lage Cristo, neto do saudoso Comandante Artur Lage, e Isabel Tomás, filha do saudoso dirigente António Moita Tomás. 

Para aqueles que este ano estão connosco pela primeira vez, que simbolizamos na pessoa do Chefe Miguel Gonçalves da Silva, figuras que são, com todo o mérito, património moral dos Bombeiros Voluntários e da comunidade de Agualva-Cacém, vai a nossa saudação especial, porquanto a vossa presença não só nos enche de satisfação como reflecte maior acreditação o nosso propósito.

Relançamos, hoje e aqui, a reserva moral que todos juntos personificamos.

Com o espírito de Servir que sempre nos animou e tomando como referência os deveres cimeiros dos sócios da Associação onde fizemos escola, consignados estatutariamente, ou seja, honrar, zelar e defender o seu bom nome, cerramos fileiras e erguemos a nossa voz de ideólogos da memória.

Fazêmo-lo, intransigentemente, em paz e como homens de paz que somos, pelo que serão sempre bem-vindos todos aqueles que assim se pautem na vida cívica e social.

Conscientes de que apenas e só nessa condição, respeitada e respeitadora, estaremos à altura de nos afirmarmos como verdadeira reserva moral, interiorizemos, hoje e sempre, não como retórica mas enquanto permanente código de conduta, o significado expresso nas palavras do saudoso Comandante Artur Lage, um dia, coligidas para figurarem na Sala do Bombeiro:

"NESTA SALA DE CONVÍVIO NÃO TEM ASSENTO A MALDADE, TERÃO, SIM, LUGAR CATIVO: PAZ, AMOR, HUMANIDADE."

Por outro lado, afirmámos nós, a dado momento, referindo-nos aos nossos encontros: 

"Este é fundamentalmente um espaço de convívio, mas também poderá ser um espaço de reflexão, entendida como elemento de vitalidade da nossa reserva moral. O facto de estarmos afastados da vida activa não significa que tenhamos perdido a capacidade de pensar e, muitos menos, virado as costas ao futuro e à inovação."

Pois bem, coerentes com tal pensamento, entendemos que o nosso relacionamento não pode ver-se esgotado na realização anual de um almoço-convívio, razão pela qual criámos recentemente uma página na Internet, já mencionada na informação remetida acerca do V Encontro, destinada a ser uma presença permanente e dinâmica, bem como um elemento de projecção e afirmação das virtualidades de todos aqueles que souberam engrandecer e prestigiar a Causa dos Bombeiros Voluntários em Agualva-Cacém. Ficamos, portanto, a contar, de ora em diante, com a vossa colaboração, nomeadamente, se possível, divulgando a nossa vontade, concorrendo com novos conteúdos e memórias e, ainda, indicando e sensibilizando outros companheiros no que se refere à participação em futuros encontros.



Caras amigas, caros amigos: 


"Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória", disse o escritor José Saramago.

Na verdade, a memória está intimamente ligada à realização dos nossos encontros. Nela nos inspiramos, com ela procuramos sempre aprender algo mais sobre a nossa existência, através dela prestamos tributo.

Trinta anos passaram, no dia 19 de Novembro, sobre a ocorrência das grandes inundações de 1983, que assolaram a baixa do Cacém, colocando vidas em perigo, incluindo a dos próprios bombeiros, caso do 2.º Comandante João Reis e do Voluntário David da Conceição Martins.

Tenho bem presente, na minha memória, a sirene a tocar durante toda a madrugada, os gritos dos desalojados e o rasto de destruição que a enxurrada deixou na sua sinistra passagem. Mas também guardo na memória a presença de muitos de vós em acção, bombeiros e dirigentes, ombro a ombro, no salvamento de bens e haveres da população e comerciantes. 

Termino a minha intervenção, com o pedido de desculpas por ser demasiadamente longo, lendo-vos o relatório sobre a actuação do Corpo de Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém, durante as inundações ocorridas há 30 anos, da responsabilidade do então Comandante Artur Lage, descoberto recentemente em pesquisas históricas que realizei no âmbito da Liga dos Bombeiros Portugueses. Com esta leitura, fica a nossa homenagem a todos quantos, naquela ocasião, constituíram um raio de altruísmo e de solidariedade!


Agualva-Cacém, 23 de Novembro de 2013


Luís Miguel Baptista