HÁ 50 ANOS: A OBRA SONHADA... NASCIA!!!

A aprumada Fanfarra dos BVAC, desfilando perante as entidades convidadas para a inauguração da 1.ª fase do quartel-sede. Destacam-se os dedicados voluntários, Gustavo Serra, Vítor Dias, Artur Bernardo e João Alegria









> Domingo, 24 de Maio de 1964

"Dois acontecimentos do maior interesse para a nobre causa dos bombeiros voluntários verificaram-se, hoje, em Lisboa e em Agualva (Cacém): primeiro, foi o acto inaugural das novas instalações da Liga dos Bombeiros Portugueses, na Rua Barata Salgueiro, e, depois, naquela ridente localidade do concelho de Sintra, a cerimónia inaugural da primeira fase do edifício-sede da associação local" - informa o vespertino "Diário de Lisboa", na edição desse mesmo dia.


DOS FACTOS
- É cerca do meio-dia. Está um dia de sol. O movimento é grande em Agualva. 
2 - Junto às instalações da Escola Industrial e Comercial de Sintra (actual Escola Secundária de Ferreira Dias), na artéria paralela à linha férrea (Rua Afonso de Albuquerque), vão-se concentrando, na máxima força, com os seus corpos activos, estandartes e ternos de clarins, as corporações de bombeiros que anuíram ao convite para comparecerem na inauguração. Chegam, entretanto, também, representantes das forças vivas. 
3 - Os BVAC, em uniforme de gala, são os últimos da longa formatura. Avistam-se as deputações dos Bombeiros Voluntários de Algueirão-Mem Martins, Almoçageme, Amadora, Barcarena, Barreiro, Belas, Colares, Queluz, Sintra, S. Pedro de Sintra, Sul e Sueste e Póvoa de Santa Iria. 
4 - A dado momento, inicia-se o desfile apeado, rumo ao Largo da República, que se apresenta engalanado com bandeiras. Todos os bombeiros, sem excepção, são saudados efusivamente pela população, na sua passagem. 
5 - Já próximo da 1.ª fase do quartel-sede, a formatura coloca-se a postos para a recepção ao Governador Civil do Distrito de Lisboa, Dr. Osório Vaz, que representa o Ministro do Interior. Ouve-se a marcha de continência. São hasteadas as bandeiras Nacional e do Concelho. No ar, rebentam morteiros e foguetes. 
6 - À sua chegada, o Governador Civil é recebido pelo Presidente da Assembleia Geral, Dr. Martins da Fonseca, pelo Presidente da Direcção, Manuel Rodrigues e pelo Comandante do Corpo de Bombeiros, Artur Lage. Sucedem-se os cumprimentos por parte de outras entidades, entre as quais o Presidente da Junta de Freguesia de Agualva-Cacém, Leopoldo Soromenho Barbosa, o Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, António de Moura e Silva, o Inspector de Incêndios da Zona Sul, Coronel Ribeiro Viana, e o Vice-Presidente da Câmara Municipal de Sintra, Eng. Francisco Corrêa Henriques (Seisal). 
7 - O Governador Civil é conduzido, pelo Comandante Artur Lage, até à formatura geral dos BVAC, comandada pelo Ajudante de Comando Joaquim Barreira de Almeida, a fim de lhe passar revista. No final, felicita o Comando pelo garbo e disciplina da Guarda de Honra. 
8 - De seguida, a mesma entidade é convidada a lançar a primeira pedra para a construção da 2.ª fase do quartel-sede, correspondente ao edifício do parque de viaturas, e que veio a ser inaugurada passados dois anos, em 4 de Dezembro de 1966. 
9 - Dá-se o momento solene da inauguração. O Dr. Osório Vaz corta a fita simbólica colocada na porta principal de acesso ao novo edifício. São lançadas pétalas de flores. 
10 - O pároco local, padre Domingos Martins, procede à bênção das instalações, seguindo-se a visita a todo o seu espaço. De uma das varandas do edifício, as várias entidades e demais convidados assistem ao desfile das forças em parada. 
11 - A terminar, realiza-se uma sessão solene. Nela intervêm os convidados de honra e os mais altos responsáveis pela instituição. No seu decurso, são entregues cerca de 40 diplomas a outros tantos beneméritos. Deste modo, os BVAC manifestam-se gratos e reconhecidos.  
12 - Na mesma ocasião, o distinto médico, Dr. Martins da Fonseca, Presidente da Assembleia Geral, afirma, convicta e orgulhosamente: "Estamos a inaugurar um dos melhores se não o melhor dos quartéis de bombeiros voluntários do País."

AINDA A SABER

O edifício inaugurado, conforme descrição feita pela imprensa, passou a constituir "gabinetes do comando, secretarias, balneários, camaratas, central telefónica, arrecadações, oficina de reparação de viaturas, gabinetes de direcção, biblioteca, bar, residência para o permanente, com cozinha, casa de banho e três quartos, torre com sereia e casa-escola". Na sua construção foram investidos 800 contos, tendo o Estado, no âmbito do Ministério das Obras Públicas, comparticipado com 243. A restante verba foi esforçadamente conseguida pela Associação através de muitos beneméritos, entre os quais Arménia Morais Pinto, que ofereceu um donativo de 100 contos. Neste contexto, é igualmente justo salientar o apoio de dedicados elementos do Corpo de Bombeiros e da massa associativa que, sentindo e vivendo a obra como sua, nunca viraram as costas ao futuro e se empenharam, sempre, com enorme entusiasmo, na realização de variadas acções de angariação de fundos, conseguindo reunir importantes somas.
Projectada pelo arquitecto Francisco Rego, a 1.ª fase, tal como as demais construídas nos anos subsequentes, foi edificada em terreno cedido pelo benemérito Daniel Lopes, compreendendo a área de 3.200 metros quadrados. Até então existiram no local as ruínas de um velho edifício, que se encontravam convertidas num depósito público de detritos. De realçar que a sua demolição processou-se, voluntária e activamente, pelos próprios bombeiros e alguns sócios, em 29 de Março de 1959, uma vez celebrada, na véspera, entre o doador, o Presidente da Câmara Municipal de Sintra, Prof. Joaquim Fontes, e o Presidente da Direcção, Padre Manuel de Paiva Videira, a escritura do terreno.
A primeira medida tendente a projectar e construir umas novas instalações, em substituição do primitivo e acanhado quartel-sede, contíguo à Capela de Nossa Senhora da Consolação, verificou-se a 8 de Março de 1956, em assembleia geral, sendo constituída para o efeito a Comissão Pró-Quartel, integrada por destacados sócios - António Salvado Pinto, Octávio Homem, Domingos Borges, João Mateus, Artur Bernardino e António Paula Lopes.